Comentário da Professora Nádie:
Nadie Christina disse...
Oi querida,
é bom saber que houveram inovações pedagógicas e que estas contribuíram para oportunizar novas aprendizagens pelos teus alunos. Todavia a tua postagem não apresenta evidências das atividades com uso de tecnologia e releitura de imagens, por exemplo. Ou mesmo a "interdisciplinaridade se fez presente em todos os momentos". Acredito que qualificaria muito o teu relato se tu nos brindasse com alguns exemplos concretos de como isso se materializou na tua sala de aula.
Um carinhoso abraço e votos de um ótimo final de semana!
Profa. Nádie
Respondendo ao Comentário:
Cito abaixo exemplos de atividades que realmente foram muito significativas durante meu estágio docente, cujas foram relatadas em meu relatório de estágio.
Após ter contado, no dia anterior, a história “Um menino e uma menina”, do autor O. Oster – URSS 1985, cuja narrativa faz parte integrante do trabalho do Geempa, falei para os alunos, no início da aula, que receberíamos duas visitas e que elas ficariam conosco durante muito tempo. Expliquei que nós teríamos que cuidar muito bem deles e que estariam nos esperando na sala dos professores. (Deixei os bonecos sentados no sofá da sala). Após passeamos pelas dependências da escola para mostrar a escola aos personagens. Este passeio foi muito interessante, pois dois alunos eram novos na escola.
De volta à sala realizamos a eleição do nome dos bonecos. Fizemos a listagem dos nomes, no quadro, conforme forem dando as sugestões. E então fizemos uma votação aberta para a escolha dos nomes. Esta etapa da atividade foi muito importante, pois explorei a escrita dos nomes sugeridos e também tiveram oportunidade de falarem e darem suas idéias.
Após apresentei o livro “As aventuras do Bruno” e “As aventuras da Michele”, confeccionados por mim, onde cada dia um aluno levou, mediante sorteio, um dos bonecos embora e relatou no livro as suas aventuras, ou seja, o que aconteceu durante o tempo que ele ficou em suas casas. No dia seguinte, na rodinha, relatavam para a turma e liam o que escreveram. Esta atividade foi muito enriquecedora e acredito que ela alcançou muito mais que meus objetivos propostos, pois foi muito além. Minha idéia, a princípio era desenvolver a leitura e a escrita, mas muito outros aspectos foram agregados automaticamente a esta atividade. A responsabilidade é um deles. Muitas mães vieram me dizer que eles tinham um zelo tão grande por cuidar dos bonecos que em certos momentos a fantasia se misturava com a realidade e elas os pegavam conversando com os bonecos ou se referiam a eles como pessoas. Um aluno disse a um colega na sala de aula, que na ocasião estava segurando a Michele pela perna, que “é assim que você trata as visitas que vão na sua casa? Se é assim eu nunca vou na tua casa!”. Isso mesmo, visitas. É isso que a Michele e o Bruno são na casa deles. E esta responsabilidade se estendeu para os temas, com o cuidado dos materiais e até mesmo com a realização das atividades em aula.
Então pude vivenciar na prática o que Augusto Cury, em seu livro “Pais brilhantes e professores fascinantes” afirma quando relata que:
Os professores fascinantes transformam a informação em conhecimento e o conhecimento em experiências. Sabem que apenas a experiência é registrada de maneira privilegiada nos solos da memória, e somente ela cria avenidas na memória capazes de transformar a personalidade. Por isso estão sempre trazendo informações que transmitem para a experiência de vida. (p.57)
Desta forma, a experiência obtida pelos alunos por meio desta atividade veio ser transformado, por eles, em conhecimento e transformação na forma de agir e se relacionar com o meio.
Outro aspecto que vem ao encontro desta realidade, foi a aprendizagem na relação do tempo. Esta atividade ajudou muito na localização temporal, pois no início do estágio eles tinham dificuldades de se localizarem nos dias da semana. Como o sorteio dos dias de quem levaria o Bruno e Michele foi feito em um único momento e os nomes expostos na ordem do sorteio em um cartaz, os alunos contavam quantos dias faltavam para chegar a sua vez e indo até o calendário se localizavam e assim, descobriam o dia da semana que cada um os levaria. E eu percebia que havia compreensão temporal e não apenas relação do nome ao dia da semana isoladamente, pois eles conseguiam descontar os sábados e domingos.
Pude perceber o âmbito da significação desta atividade até mesmo no momento de tirar fotos com eles. Alguns me pediram para tirar junto com os bonecos.
Na segunda semana de estágio, destaquei uma atividade referente a aula do dia vinte de abril, a qual iniciei relembrando-os sobre as frases criadas na aula anterior, tivemos uma conversa sobre o meio ambiente e os levarei ao laboratório de informática para digitarem as frases no computador.
Apesar de a escola possuir um laboratório de informática bem equipado, a professora não costumava utilizá-lo como ferramenta do processo ensino-aprendizagem.
Realmente esta atividade foi uma das atividades de maior impacto em meu estágio, pois a inserção da informática nas aulas, nesta e em outras atividades diversificadas, propiciou o despertar do interesse e curiosidade dos alunos pelos temas trabalhados, colaborando para a aprendizagem.
Acredito que meus objetivos foram alcançados, pois a alfabetização dos alunos se tornou mais instigante devido a motivação de aprender. Empenharam-se e mostraram-se interessados com a atividade. Gostaram tanto que os ensinei a procurar no Google por imagens e quiseram copiar algumas para por junto com as frases. Este recurso foi utilizado durante vários momentos do meu estágio docente, e consegui transformar a construção de palavras e o interesse em descobrir a escrita em algo prazeroso por meio de softwares e jogos educativos.
“Educar é procurar chegar ao aluno por caminhos possíveis: pela experiência, pela imagem, pelo som, pela representação (dramatizações, simulações), pela multimídia. É partir de onde o aluno está, ajudando-o a ir do concreto para o abstrato, do imediato para o contexto, do vivencial para o intelectual, integrando o sensorial, o emocional e o racional” (Moran, 1991.p. 146).
Concordo com Moran, pois acredito que o professor precisa utilizar de mecanismos variados, não pelo simples pretexto de tornar a aula inovadora, mas sim, pela busca primordial de chegar a seu aluno, de propiciar caminhos para seu desenvolvimento integral.
E um destes caminhos é o diálogo. Caminho este presenciado fortemente na terceira semana de estágio.
Com a construção do cantinho da leitura e com ele a introdução do carpete na sala, comecei a utilizar a rodinha de conversa em meus planejamentos. Grande foi minha surpresa com a participação ativa de meus alunos nos debates e nas contribuições através de suas experiências.
Nestas conversas, eu procurei “... expor e não impor as idéias, consciência critica, capacidade de debater, de questionar, de trabalhar em equipe”. (Cury. 2003. p.68), valorizando e tendo “respeito aos saberes provenientes da experiência de vida” dos alunos (Carvalho et. al. 2008.p. 16), onde suas contribuições propiciavam a construção da consciência critica e reflexiva, onde o educando é concebido “como ser ativo” (Jean Piaget).
Realmente, esta inserção das tecnologias em sala de aula também foi muito relevante.
Através desta ferramenta, os alunos se sentiram mais motivados a descobrirem, pesquisarem e os subsídios e materiais encontrados eram tantos que a interdisciplinaridade se fez presente em todos os momentos.
Outro ponto importante que permeia a práxis educativa é o diálogo. E sabendo que “O dialogo é fundamental entre mestres e educandos” (Paulo Freire), tornei hábito muito freqüente a utilização destas rodas de conversa e acredito que esta nova atitude foi muito produtiva, pois utilizei um aspecto muito forte da turma, (excesso de comunicação) em prol de um fim produtivo.
No entanto, também tive que me conscientizar que “para por em prática o diálogo, o educador deve colocar-se na posição humilde de quem não sabe tudo” (GADOTTI, 1991, p. 69), e respeitar as contribuições dos alunos, aproveitando para aprender com elas.
Na quinta semana, uma das atividades desenvolvidas com minha turma de estágio curricular foi a releitura da obra de arte de Tarsila do Amaral, intitulada "A Família". Esta atividade foi simplesmente magnífica, quão grande foi seu impacto na aprendizagem dos alunos. Eles fizeram a releitura através da construção da imagem de sua própria família com materiais recicláveis, além de produções textuais e participação ativa nos diálogos em sala de aula.
Trabalhamos os diferentes tipos de formação familiar, e trouxemos estas realidades para sala de aula através da releitura de suas próprias produções.
Conseguimos perceber os papeis da mulher na sociedade atual, sendo mãe, mulher, profissional, irmã, filha, esposa e ser humano, bem como suas qualidades e também seus defeitos, desmistificando a imagem de perfeição da mãe. Pude perceber que os alunos começaram a compreenderam e a ajudarem mais suas mães após este período.
Todas estas descobertas partiram da releitura da obra, construções textuais provenientes das reflexões grupais e também mediante a pesquisa no labin. A vida da Tarsila do Amaral foi pesquisada e refletida dentro do contexto histórico e também trazida para os dias atuais.
Até mesmo a questão de pais separados, dentro da formação familiar pode ser trabalhada de forma simples, natural e com um resultado de acordo com a idade deles.
Outro aspecto que também pode ser trabalhado de forma sutil é questão do namoro entre pais separados, que constituem nova família. E isso tudo, dentro da história de vida da Tarsila. E é claro, engajado neste contexto a alfabetização e os conteúdos estipulados no currículo.
E dentro do contexto das profissões das mães, ou seja, das mulheres na atualidade, pudemos fazer um paralelo com as épocas passadas, resgatando dados e informações com pais e avós sobre o contexto histórico e social daquela época.
Nesta perspectiva, a atividade realizada na sexta semana através da pesquisa e coleta de dados contribui para este resgate.
Por meio do diálogo na roda de conversa, pudemos resgatar dados sobre os parentes que viveram na época de Tarsila do Amaral e suas profissões. Conversamos sobre as mulheres. O que mudou daquela época para cá? Elas trabalham no mesmo serviço? Quem é que cuida da casa? É sempre a mãe ou tem empregada? Após construímos um cartaz com as profissões do século passado (época da pesquisa e os dias atuais), fizemos uma comparação entre ambos. Em seguida, relacionamos o cartaz com os diversos trabalhos das mães do segundo ano. Listamos as profissões das mães no quadro e marcamos ao lado de cada profissão a quantidade de mães que trabalham em cada setor. Com base nesta tabela feita no quadro confeccionamos um gráfico.
“...os alunos participaram ativamente da conversa sobre a pesquisa que realizaram com os pais sobre as profissões dos avós e bisavós. A conversa foi muito produtiva. Eles ficaram tão empolgados pois descobriram muitas curiosidades como por exemplo: o avô era plantador de fumo e tinha uma estufa de fumo e o aluno trouxe uma foto do avô. Outro disse que o avô tinha um engenho de cana. E além das profissões trouxeram dados sobre suas famílias. Alguns alunos disseram que o avô morreu quando o pai ainda era criança e por isso o pai não o conheceu. Outro relatou que o avô era agricultor e agora está aposentado. Disse ele que o avô contou que não usavam tanto veneno nas lavouras antigamente. Conversamos sobre o usos dos agrotóxicos e a parte prejudicial deste para a natureza. Achei um ótimo gancho para trabalhar o uso de agrotóxicos nos bananais e nas roças de arroz, cujo o uso de venenos é grande e é as duas culturas mais predominantes no município”. (http://mineideestagio.pbworks.com – reflexão 18 de maio de 2010).
Émile Durkheim no texto “A educação como processo socializador: função homogeneizadora e função diferenciadora” ressalta que o aluno “não se encontra em face de uma tabula rasa, sobre a qual poderia edificar o que quisesse, mas diante de realidades que não podem ser criadas, destruídas ou transformadas à vontade. Não podemos agir sobre elas senão na medida em que aprendemos a conhecê-las, se não nos metermos a estudá-las, pela observação, como o físico estuda a matéria inanimada, e o biologista, os corpos vivos”.
Sendo assim, tanto a história já construída quanto a história ainda a construir estão dentro de um processo de conhecimento do próprio eu e de sua ação sobre a realidade. Somente assim, se poderá refletir e repensar a forma que transformamos e construímos esta história. E cabe, também a escola, o papel de propiciar meios para estas descobertas, valorizando todo o contexto de vida do aluno.
Conforme Moran ( 1991), “Educar é estar mais atento às possibilidades do que aos limites. Estimular o desejo de aprender, de ampliar as formas de perceber, de sentir, de compreender, de comunicar-se.
Apoiar o estado de perceber e sentir, de compreender e comunicar-se. Apoiar o estado de prontidão para aprender dentro e fora da escola, em todos os espaços do nosso cotidiano, em todas as dimensões da vida. Estar atento a tudo, relacionando tudo, integrando tudo. Conectar sempre o ensino com a pessoa do aluno, com a vida do aluno, com a sua experiência”.
Consciente disso, o projeto desenvolvido por mim, juntamente com a escola, sobre “A Valorização da Vida”, dentro da perspectiva da valorização e preservação do meio ambiente, vem evidenciar esta preocupação, cujas muitas atividades foram desenvolvidas durante o estágio e duas delas podem ser observadas na sétima e na nona semana.
A primeira vislumbrou a preocupação com a preservação dos recursos naturais bem como a importância da reciclagem e da diminui da produção de lixo em nossas casas. Este trabalho foi realizado por meio da apresentação de vídeos que enfocam a importância da reciclagem e dão dicas de como reaproveitar os materiais e habitualmente iriam parar no lixo. Aproveitando as dicas confeccionamos brinquedos com sucata e os alunos gostaram tanto que trouxeram por vários dias para a escola para brincarem na hora do intervalo.
A segunda veio com o intuito de conscientizar que a preservação não se limita apenas em não poluir, mas sim em poupar os recursos naturais. E por isso, levei os alunos para assistir a alguns vídeos que mostravam a poluição das águas dos mares e rios bem como a repercussão para a fauna e a flora. Em seguida, conversamos sobre o desperdício que praticamos em casa com nossa água. Como culminância, construímos um cartaz com dicas de economia da água.
Com esta experiência que o estágio obrigatório me proporcionou, percebi que nós educadores, precisamos estar cientes de que “o professor não apenas transmite uma informação ou faz perguntas, mas também ouve os alunos. Deve dar-lhes atenção e cuidar para que aprendam a expressar-se, a expor opiniões e dar respostas. O trabalho docente nunca é unidirecional. As respostas e opiniões mostram como eles estão reagindo à atuação do professor, às dificuldades que encontram na assimilação dos conhecimentos. Servem, também, para diagnosticar as causas que dão origem a essas dificuldades.” (LIBÂNEO, 1994, p.250)
Pude perceber que isso só é possível, mediante um planejamento engajado com o social, sistematizado com o currículo escolar e flexível e aberto as diversidades e especificidades de cada educando, valorizando seus conhecimentos prévios, suas participações, onde a relação mútua entre professor e aluno contribui para a aprendizagem. Aprendizagem esta que não é somente do educando, mas também do professor, que passa a ser mediador do conhecimento ensinando e aprendendo, e fazendo, desta forma, um verdadeiro processo ensino-aprendizagem.